Após a revistaVeja divulgar, na última segunda-feira (8), conversas entre o zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos, e apostadores investigados na "Operação Penalidade Máxima 2", do MP-GO (Ministério Público do Estado de Goiás), mais printsde mensagens surgiram nesta terça-feira (9).
Nas novas conversas divulgadas primeiramente pelo portal GEe também obtidas pela betfair, Bauermann recebe ameaças de morte por não ter levado cartão amarelo em jogo entre Santos e Avaí, no Campeonato Brasileiro do ano passado. O defensor havia recebido R$ 50 mil de forma antecipada para ser advertido pela arbitragem a mando dos apostadores.
O primeiro printmostra as seguintes mensagens trocadas entre dois comparsas que comandavam o esquema de apostas e manipulação:
Apostador 1: Que prints?
Apostador 2: Dois jogadores fizeram e ele não fez. Da Silva fez, Dadá fez. Ele não fez, aí perguntei para você se tinha sido você. Só isso. Irmão, esse moleque [Bauermann] merece morrer. Na moral. Está brincando com o dinheiro das pessoas.
Essa conversa é enviada a Bauermann, que responde de maneira assustada.
Bauermann: Muito triste mesmo. Mas, como falei, vou resolver. Estou voltando para Santos agora e vamos chegar lá amanhã de manhã. Vou tentar resolver chegando lá.
Apostador: [Envia print da conversa com a frase 'esse moleque merece morrer']
Bauermann: Morrer, irmão? Não precisamos disso. Eu estou tentando resolver para te mandar esse valor, como falei.
Apostador: Isso aí é o cara de Salvador falando.
Depois disso, o jogador do Santos faz uma promessa aos apostadores: como não recebeu o amarelo contra o Avaí, ele seria expulso no duelo contra o Botafogo, também pelo Brasileirão.
Bauermann: Vamos reerguer a firma.
Apostador: E você vai estar comigo. Pode confiar, irmão. Para o que der e vier, mano. Não estou nem dormindo à noite, mano.
Bauermann: Imagina eu, então [risadas]. Deu até dor de barriga [risadas] Mas vamos para cima. Vai dar certo.
Apostador: [Envia áudio]
Bauermann: Combinado, mano! Estamos juntos. Depois te ligo, irmão.
Apostador: Fechou, irmão.
Em Botafogo x Santos, Bauermann de fato é expulso, mas ele só leva o cartão vermelho depois do encerramento da partida, ao reclamar com a arbitragem.
Com isso, vários sitesde apostas não computam a exclusão do atleta, o que revolta o apostador.
Apostador: Olha a p*** da m*** que você fez, mano. Por que você não fez a p*** que eu te falei? Por que não tomou essa p***? No primeiro tempo, por que não deu uma p*** de uma cotovelada? Por que você não me escuta, mano? Você me f*** de novo, mano. Mais dessa vez você vai resolver. Tomou vermelho e você me f***, mano.
Bauermann: Nem eu estou acreditando nisso [envia emojis de choro]
Apostador: Mano, era só você fazer o que conversamos.
Bauermann: Eu sei. Tinha muitas possibilidades para fazer, e não sabia que tinha essa regra [de sites de apostas não computarem expulsões ocorridas após o apito final]
Na sequência, Bauermann segue sendo ameaçado e cogita fazer um empréstimo bancário para devolver o dinheiro exigido pelos criminosos.
Apostador: Por que você não deu um tapa na cara? Por que não xingou o juiz com a bola rolando? Por que você não tomou o cartão no primeiro tempo como eu te falei, mano? Sua desculpa vai fazer qual diferença para mim?
Bauermann: Me perdoa, mano. Eu fiz o que estava combinado, porém não sabia da regra, como te disse. Com toda certeza, se eu soubesse que não valia após o apito eu tinha feito, sem dúvida nenhuma. Mas eu não sabia e tive que dar um jeito. Mas, como disse, quero resolver isso, pois sou pai de família, tenho esposa grávida, dois filhos pequenos. Quero resolver isso para tirar esse fardo da sua e das minhas costas. Porque você deve pensar que estou tranquilo, mas não estou, mano. Estou p*** de raiva, muito triste com tudo isso, e estou querendo resolver a situação. Faço um empréstimo no banco, não faço ideia para quem, mas tento ver alguém para pedir emprestado. Só quero resolver isso.
Apostador: Irmão, eu tirei esse fardo de você no sábado, mano. Te dei toda a confiança.
Bauermann: Como você tirou esse fardo de cima de mim se você falou até em me matar? Não tem como ficar tranquilo.
Apostador: Eu falei isso agora? Truta, você está de brincadeira. Pegue todas essas conversas, por ir até a polícia, o que você quiser. Eu vou te mostrar nossa força, mano.
Bauermann: Claro que não vou fazer isso. Só quero resolver a situação. Você perdeu R$ 440 mil + R$ 350 mil?
Apostador: Fora as apostas, mano. Dois dois dias. Olha o que você fez, pelo amor de Deus.
Bauermann: Me perdoa, mano. Só quero resolver. Vou fazer um empréstimo no banco e te mando para a gente resolver. Claro que não vou em polícia nem lugar nenhum, só quero resolver.
Apostador: Empréstimo de R$ 800 mil?
Bauermann: Se for o caso, sim. Eu ligo para o meu gerente e faço esse empréstimo.
Apostador: Isso vai te fazer feliz, irmão? Você vai entrar numa dívida por ma p*** de uma porrada que você deveria ter dado.
Bauermann: Vai me fazer feliz?
Apostador: É. Essa é minha pergunta, mano. Você vai entrar numa dívida de um dinheiro que você não ganhou, p***. Você acha que eu gosto essa p***? De você estar me devendo isso, c***? Eu queria te trombar amanhã para te encher de dinheiro. Não está desse jeito. O problema é que você não sabe escutar os outros, mano. E agora e não tenho para onde correr a não ser receber de você, mano.
Bauermann: Com certeza não vou ficar feliz, mas eu tenho uma esposa grávida, tenho dois filhos pequenos. Você falou até em me matar. Eu quero resolver isso e as coisas não chegarem a esse ponto. Vou dar um jeito aqui, amanhã de manhã ligo para o meu gerente.
Apostador: Olha aí o que eu falei para o meu sócio. Eu sou o que sou e meu nome na rua ninguém vai trar. Ninguém vai falar que eu ramelei. Na rua, eu perco minha vida, mas não perco meu nome. Na vida que eu vivo, irmão, ou eu mato, ou eu morro. E se eu tiver que matar e morrer pela minha honra, pode ter certeza que eu faço, mano.
Bauermann: Vou resolver isso amanhã.
A situação seguem sem ser resolvida, e em seguida o atleta do Santos diz que pode tentar pagar os criminosos através do dinheiro que receberá em uma possível transferência para o León, do México.
Apostador: Quantos por cento do seu passe você tem, mano?
Bauermann: 20%, se não me engano.
Apostador: Quando vale seu passe hoje, mano? Eu já estava comemorando e me f***.
Bauermann: [Envia print do portal Transfermarkt que mostra que ele é avaliado em 3 milhões de euros] [Envia o arquivo Proposta León México.pdf] Mas recebi proposta de US$ 2,5 milhões, e no final do ano estou para receber uma de US$ 4 milhões do mesmo time que já me ligou para falar que vai oferecer isso para me tirar do Santos. Então, aí eu tenho por volta de uns US$ 800 mil.
Apostador: P***, mano, que m*** você fez. Mas, infelizmente, esse vai ser o jeito. Nunca quis nada que é seu, muito pelo contrário. Vamos fazer o seguinte, truta: quanto você acha que arruma amanhã?
Bauermann: Vou tentar dar um jeito de conseguir R$ 800 mil. Tenho esse meu passe na mão, vou oferecer para alguém. Vou ligar para o meu gerente também. Eu estava contando com esse dinheiro também, ia me salvar, mas deu essa m*** de não valer após o apito.
Apostador: Irmão, se você tivesse me ouvido, você teria feito o que eu falei. Não é algo impossível. Por que você não me ouviu, de verdade? Por que você não deu uma cotovelada em alguém? Qual o seu medo? Você fez gente perder R$ 2,8 milhões hoje. Mais R$ 5 milhões semana passada, irmão. Sem brincadeira, mano. Hoje iríamos livrar tudo e ficar fortão. Agora, você f*** com a gente.
Bauermann: Eu juro por tudo o que ouvi, mano, que a única coisa que eu estava pensando era nesse cartão. Como você falou, tem mil maneiras de tomar o cartão e, por não conhecer, eu fiz o que tinha que fazer para tomar o cartão. Estou triste demais com tudo isso.
O criminoso ainda tenta fazer Bauermann cooptar mais jogadores do Santos para entrar no esquema.
Apostador: Quanto você acha que consegue para amanhã? E quantos jogadores você arruma para tomar a p*** do cartão no domingo?
Bauermann: Amanhã? Eu preciso ligar para o meu gerente ou ligar para alguém para ver se consigo pegar emprestado. Eu vim do América-MG, não tinha salário alto, não conseguia guardar muito dinheiro. Meu salário aqui no Santos foi mudar há dois meses. Então, só pedindo emprestado. Amanhã de manhã eu vou atrás disso e vejo quanto consigo. Cara, posso ver que está à disposição aqui (no Santos). Acho que uns dois (jogadores).
Apostador: Certeza disso, mano? Dois caras mil grau? Que não vão fazer o que você fez.
Bauermann: Posso conversar com eles amanhã para ver, mas talvez eu consiga dois, sim. Você perdeu quanto? R$ 400 mil + R$ 350 mil?
Apostador: Total de R$ 800 mil, mais ou menos. De hoje eu nem vi o total. Estava contando com você, mano. Eu não estou acreditando.
Bauermann: Você pode pensar que eu estou tranquilo com isso, mas estou p***, com muita raiva. Era o dinheiro do parto da miha filha, para você ter noção. Então, não fiz por não querer fazer, juro para você.
Apostador: Você tem algum cara aí do Santos que é seu irmão? Para te ajudar a sair dessa m*** que você se enfiou? Dois para amarelo e um para vermelho, truta. Só amarelo nós não conseguimos muita coisa, não. E o cara que aceitar o vermelho ainda leva R$ 200 mil depois de feito. Já pensa em alguém. Chama para conversar que eu vou descer aí (para Santos). Isso para começar a te ajudar, truta, porque o que você fez não está da hora. Os caras estão querendo cobrança. Nós perdemos muito dinheiro, mano.
Bauermann: Eu te entendo, mano. Estou triste demais com tudo isso. Estou pensando em mil maneiras de resolver isso. Vou pensar em alguém que aceitaria fazer isso e amanhã falo pessoalmente, porque hoje não tem treino.
Apostador: Então já pensa logo. E alguém de confiança, que vá fazer o que você não fez.
Os últimos printsmostram que o zagueiro fez pagamentos ao criminoso logo depois do nascimento de sua filha, que ficou hospitalizada após o parto.
Bauermann envia um comprovante e afirma que está devolvendo os R$ 50 mil que havia recebido pela aposta no cartão amarelo em Santos x Avaí.
Bauermann: [...] Com a minha filha recém-nascida no hospital. Passou seis dias na UTI e isso acabou comigo. Tive que pagar uma fortuna no hospital, mas estamos nos reerguendo aqui. Estou com R$ 30 mil aqui já para te mandar, e amanhã vou dar um jeito de conseguir os outros R$ 20 mil para fechar os R$ 50 mil. Se não fosse essa situação do hospital, eu já tinha o valor aqui. Mas vou dar um jeito nesses R$ 20 mil amanhã.
Apostador: Amanhã eu te ligo aí num horário melhor e conversamos. Um abraço e uma boa noite. E melhoras para sua filha, que Deus esteja com ela.
Bauermann: Está beleza, mano. Vamos converando. Abraço e Deus te abençoe.
Apostador: [Envia uma chave PIX] E aí, meu amigo? Boa tarde. Fez aí, mano?
Bauermann: Estou fazendo agora. Estava treinando.
Apostador: O amigo já tá pulando aqui. Eu estou num ódio com essas paradas que só vendo, mano.
Bauermann: [Envia o arquivo ComprovanteSantander.pdf]
Nesta terça-feira, o Santos anunciou o afastamento de Eduardo Bauermann enquanto o MP-GO finaliza suas investigações.
O clube da Vila Belmiro emitiu um comunicado oficial e afirmou que o defensor está fora dos treinos da equipe profissional de maneira preventiva e ficará realizando atividades físicas no CT Rei Pelé, enquanto o Peixe aguarda os desdobramentos da Justiça.
Veja abaixo quais são os jogos que estão sob investigação na Série A
Quem são os jogadores suspeitos de manipulação no Brasileirão e Estaduais?
O Ministério Público não divulga nomes, mas Victor Ramos, ex-Vasco e Palmeiras, teve o celular apreendido. O atleta de 33 anos foi encontrado em sua casa nesta manhã, em Chapecó, e conduzido para prestar depoimento. No entanto, ele segue treinando normalmente.
Kevin Joel Lomónaco, zagueiro do Red Bull Bragantino é outro suspeito. Policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriram um mandato de busca na casa do atleta. A informação foi publicada pelo jornal "Em Pauta".
De acordo com o "globoesporte.com", o lateral-esquerdo Igor Cariús, do Sport, e o meia Gabriel Tota, ex-Juventude e atualmente no Ypiranga-RS, são alguns dos investigados.
Ainda segundo o MP de Goiás, os suspeitos vêm de diversas regiões do Brasil. Nesta terça, foram buscados:
Goiás - 1 atleta investigado
Rio Grande do Sul - 3 atletas investigados
Santa Catarina - 2 atletas investigados
Rio de Janeiro - 1 investigado (não atleta)
Pernambuco - 2 atletas investigados
São Paulo - 10 mandados de busca e apreensão e 3 prisões
Algum jogador de futebol foi preso?
Nenhum jogador preso, só pessoas envolvidas nos pedidos de manipulação. Foram três mandados de prisão em São Paulo, mas só para não atletas.
Foram apreendidas granadas de efeito moral em um mandado de prisão em São Paulo a armas de fogo em outro endereço, também em terras paulistas. Nesse local, houve também um flagrante de armas de fogo sem o devido registro.
Os atletas ou aliciadores podem ser indiciados via Estatuto do Torcedor e também podem responder por crime por lavagem de dinheiro, se for o caso. Segundo o Estatuto do Torcedor, a pena varia de 2 a 6 anos de prisão.
O que os jogadores faziam para manipular as partidas?
Os atletas e envolvidos suspeitos estão sendo investigados por manipulação da seguinte forma: receber cartões amarelo ou vermelho, cometer um pênalti, garantir uma derrota parcial no 1º tempo, número de escanteios, etc.
O que os clubes dos jogadores envolvidos disseram?
A Chapecoense e o Red Bull divulgaram notas sobre os jogadores investigados.
"O clube tem tolerância zero com qualquer atitude que possa ferir a idoneidade do esporte e vá contra os valores e dignidade de todos que vestem as cores do Red Bull Bragantino. Nos colocamos à disposição das autoridades durante a investigação e trataremos internamente a situação legal envolvendo o atleta", disse o time de Bragança.
"A respeito da “Operação Penalidade Máxima” e do cumprimento do mandado relacionado à ela em Chapecó – envolvendo um jogador do clube – a agremiação alviverde reforça o seu apoio e, principalmente, a confiança na integridade profissional do atleta. Por fim, tendo em vista as investigações, o clube destaca o seu compromisso em colaborar totalmente com as autoridades e oferecer todo o suporte e informações necessárias na apuração e esclarecimento do caso".
Quais são os próximos passos da investigação?
Segundo o MP de Goiás, agora as autoridades irão reunir o material angariado em 6 estados envolvidos, com dezenas de aparelhos eletrônicos apreendidos, analisanto tudo e realizando interrogatórios. Após analisar as provas, aí sim serão avaliados os próximos passos.
O que a Operação "Penalidade Máxima" investiga
A investigação da Operação "Penalidade Máxima" aponta que grupos criminosos convenciam jogadores, com propostas que iam até R$ 100 mil, a cometerem lances específicos em partidas e causassem o lucro de apostadores em sites do ramo.
Um jogador cooptado, por exemplo, teria a "função" de cometer um pênalti, receber um cartão ou até mesmo colaborar para a construção do resultado da partida - normalmente uma derrota de sua equipe.
As primeiras denúncias ouvidas pela operação surgiram no fim de 2022, quando o volante Romário, então jogador do Vila Nova (GO), aceitou R$ 150 mil para cometer um pênalti contra o Sport, em partida válida pela Série B do Brasileiro.
Na ocasião, o atleta embolsou R$ 10 mil imediatamente e só ganharia o restante caso o plano funcionasse. Romário, porém, sequer foi relacionado para a partida, o que estragou a ideia.
A história chegou até Hugo Jorge Bravo, presidente do time goiano e também policial militar, que buscou provas e as entregou ao Ministério Público do estado. A partir daí, criou-se a operação "Penalidade Máxima" para investigar provas e suspeitas sobre o assunto.
Na primeira denúncia, havia a suspeita de manipulação em três jogos da Série B, mas os últimos acontecimentos levaram os investigadores a crer que o problema era de âmbito nacional e havia acontecido em campeonatos estaduais e também na primeira divisão do Brasileiro.
Além de Romário, outros sete jogadores foram denunciados pelo Ministério Público por participarem do esquema de fabricação de resultados: Joseph (Tombense), Mateusinho (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa), André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Ituano), Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã) e Paulo Sérgio (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário-PR).